Saturday, January 22, 2022

Azáfama da Citadela Interior

Não há momento em que a minha mente se cale
Uma cacofonia de vozes, de vontades
Acotovelando-se para serem ouvidas
Intempérie de sentimental sentença
Não há clemência, uma debandada de veleidades
Devaneios, nuvens de pensamento
Não se sustentam, pesadas, caem
É um estrondo, medonho
Aproxima-se finalmente
O céu, tira-se o véu
Embate, todo o cosmos, na porra da Terra
Nunca vistos antes, nefilins, indígenas da mente
Pouco sapientes, agora que os invocámos
É uma desgraça... tropeçam na estratosfera
Não sabem andar por aí, parecem saídos de Babel
Piores estamos nós, depois de milénios de guerras santas
É um espetáculo vergonhoso
Seria heresia, se aqui não estivessem descobertos
Expostos a descendentes de carbono
Tanta coisa e são como nós
Desajeitados, apavorados, neuróticos... se tiverem sorte
Com esse aparato todo
Já me esqueci o que tanto me atropelava
Acabou-se a insónia, voltar a dormir.... para quê?
Estou tão bem assim acordado
A noite lá fora é cúmplice do silêncio
Ouvido pelos que permanecem em vigília
De luzes apagadas, fingindo estar a dormir
Sinto o contraste do aqui e do lá fora
Incógnito, espreito como que numa cilada
A azáfama da citadela interior
Só acessível pela noite quieta, que se demora deliciosamente
Deixando escorrer, de uma nascente de memórias ligadas a afecto
Revisitando o outrora que sustenta o vigente
É o badalar, abafado pela distância
Que desperta uma reminiscência ao de leve apagada
De uma disposição horizontal
Um pouco acima do solo
Enredado por oblíquos lençóis

Friday, January 7, 2022

Jogo de Luzes

Na diagonal incide um difuso
De ultravioletas e infravermelhos
Toca-me, delimita-se nos contornos 
Impressos atrás de mim
Com relutância, 
Reconheço-me no negativo de mim
Uma inegável, 
Desconfortável parecença, marca presença, 
Ali fica, me encarando, tão estupefacto quanto eu.
Habituo-me à sua permanência todos os dias à mesma hora

Sem me dar conta, etéreos zepelins
Brincam com as pronunciadas tonalidades
Parecem dar vida a essa parte de mim,
Gesticula algo agora, não tem voz,
Ainda é muito novo, não aprendeu a falar

Percebo-o na sua incoerência
Uma tempestade de experiências
Que não se contêm na palavra
Sentem-se no alvoroço da hora tardia
Em que me vejo tão pequeno,
Perante essa torre alta que sai de mim

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