Depressões circulares cravadas na parede
Equidistantes, deliberadas, intimas
Equidistantes, deliberadas, intimas
Não fossem estas feitas de eterna sentença
Um simulacro de um outro, um oráculo num olhar
E de alma, se somente alguém aqui pudesse fingir ter
Um simulacro de um outro, um oráculo num olhar
E de alma, se somente alguém aqui pudesse fingir ter
Essa artimanha de côncavo semblante
Faz transparecer uma oca lucidez
Qual revejo intrépido pulsar
Produto da riqueza do imaginário
Ou mortificada alucinação
Tão embebido em insensível mármore estava eu
Em êxtase, exasperado, para que secos lábios se abrissem
Esculpidos, em transe demoníaco com certeza
Mentem em silêncio, serenos, imperturbáveis perante meu pranto
Jamais dirão que não beijam, nem mordem, nem vivem
Cravo-lhe na testa algo profano
Ordeno-lhe que viva
Em êxtase, exasperado, para que secos lábios se abrissem
Esculpidos, em transe demoníaco com certeza
Mentem em silêncio, serenos, imperturbáveis perante meu pranto
Jamais dirão que não beijam, nem mordem, nem vivem
Cravo-lhe na testa algo profano
Ordeno-lhe que viva
Não me obedece
Imóvel, encara-me com pálida evidência
De que somos ambos réplicas
Répteis, réstias de medos arcaicos
De que somos ambos réplicas
Répteis, réstias de medos arcaicos
Mas apenas um de nós
Enredado na mão do Diabo
Escravo de heresias herdadas
Enredado na mão do Diabo
Escravo de heresias herdadas
À mercê do vitupério de Deus
Eu me desmoronaria aqui
Odeio-o agora em desespero
De tão siamesa semelhança
Desejo-lhe destruição, desabe como eu
Perante tal anómala figura, perversa criação
Existo, eterno, petrificado em seu olharAustero, inabalável, incessante
Jaz de pé, constante, seguro em sua convicção
E eu, preso em seu olhar, enfeitiçado
Enlouquecido na impossibilidade de ser
Existo, eterno, diluído num vigilante de granito
Existo, eterno, diluído num vigilante de granito
Ordeno-lhe que me liberte
Não me obedece
Não me obedece