Friday, June 10, 2022

Ângulo Morto

Não te queres demorar
Só mais um pouco
Desta vez?

Já que ao de leve apenas
Te queimas na retina
Alocaste no fundo do crânio
Com perenal duração

E fazes sempre o teste
Vais embora
Para eu ver
Se a dor te guarda
Mais fundo na memória

Já podes aparecer
O deserto afetivo
Atravessado
Por teus dedos
Ainda recolhe
As cascatas do mar
Dividido em dois

A norte quer te ver
Seca o resto do mar
Que me afogo sem ti

E a sul que mais não te veja
Os navios despenham-se
Nessa longa espada 
A meio do oceano

Com Neptuno 
Nas profundezas
E tu caminhas sobre ele
Num longínquo aqueduto
De águas inabitáveis, inabaláveis

Pusesse eu um pé
Em direcção ao conglomerado
De líquidos e espelhos escorregadios
Era-me obliterado cada pedaço de mim
Que não suportava a aproximação
Fosse eu descobrir
Lá em baixo, não havia nada
Nenhum vestígio de ti
Nem oxigénio que me deixasse arrepender-me
Voltar a cima e expirar todo o desgosto
Ficaria lá contigo pesando-me no peito
Sucumbido ao sono eterno