Maldição do dom da visão
Assola o humilde ingénuo
Num mundo de fealdade
Céus rodopiam em louco escarlate
Luzes intermitentes rasgam a abobada celeste
Pedra sólida desfaz-se como migalhas de pão
E levita na electricidade trágica do ar
Perante tal abominação a boca abre-se
Aberta como uma porta escancarada
Apenas a escuridão do céu da boca
Abafa as labaredas que se contorcem mesmo à sua frente
As cordas vocais estrangulam-se igualmente em terror como cobras hipnotizadas
Os olhos gritam o que a boca não consegue
Tapando-os de imediato com mãos transparente
Mãos transparente de tão aguçada percepção
"Maldito dom da visão!", desembaraça-se ele finalmente
Outros
Cegos e contentes
Com um sorriso insano
Deambulam para trás e diante
Abençoados com a dom da ignorância
Desconhecem o mundo que lhes passa à frente dos olhos
Olhos esbranquiçados e opacos
Mantêm tanta vigília como vasos de porcelana
Desperdiçam uma vida assim
Mas que lhes importa?
Não sentem falta do que não podem ver
Então continuam eles
Cegos e contentes
Até que são sugados pelo mesmo surreal
Que me assombra cada dia
Mas eu sei o que me atormenta
Eles nunca saberão para onde vão
"Mas eu sei o que me atormenta
ReplyDeleteEles nunca saberão para onde vão"
Acho que me rendi... Acho que este foi o tiro final.
Presumo que esta podia ser a minha versão do "Ensaio sobre a Cegueira" sem querer plagiar ninguém.
Deletefantástico. Voce possui uma percepção aprimorada. adorei
ReplyDeleteAgradeço imenso pelo comentário, todos os comentários são bem vindos. Devo dizer que também deverás ter uma boa percepção, senão não irias conseguir entender o âmago deste texto.
DeleteBelissimo blog, se puder visite o meu
ReplyDeletehttp://afacedosilencio.blogspot.com
Obrigado pelo comentário. Continua a comentar mais.
Delete