Tão baixo
Assombrado
Estática da televisão
Olhos calados
Impregna-se um pesar
O espaço aglutinado entre os lençóis
Denúncia a ausência de outra fonte de calor
Debate-se com a escassez de um elo de ligação
Mas finge-se de morto
Como se nada disso importasse
Quem o visse ali, ninguém diria
Sangra por todos os poros
Ao longe
Imagina-se vida
De quem ignora a madrugada
Escondidos em deslizes de gato
Aparecem em sonhos como panteras
Fantasmas desta casa, de caras tapadas
Atrás de mim, deixo-os para trás
Corro desalmado atrás de vulto que foge
Entretanto me encontro comigo mesmo
Não me reconheço, odeio-o em segredo
Algo em nós, que nenhum quer que seja seu
Trocamos olhares e esgares
Fica no meio algo por dizer, algo por perceber
Sem declarações de guerra, nem oferendas de paz
Sem olhar para trás, nem virar as costas
Deixo-o ir
Ele vai
Tresmalhado
Espião, evade-se entre momentos de insónia
Extrapola-se pela barreira hematoencefálica
Erra pelo corpo, nó na garganta, tremores, arritmias
Prende a respiração, atira corpo em queda livre
Volta mais tarde em vigília baixa
Noutro corpo, noutra forma
Transmutado em qualquer medo
Grande demais para aparecer
Repetido em cada disfarce
Mais diluído do que da última vez
Repelido, escapa novamente, sempre fugidio