Wednesday, June 20, 2012

Weeping Angels

Acaba um parto, começa uma morte
Criança nasce em choro, homem morre em silêncio
Baptismo em agua, baptismo em fogo

A inevitabilidade do cessar da vida foi esquecida
Ignorada, evitada, cega, surda e muda
Banalizada num ritual de passagem de ilusão
Demente alucinação, louca alienação
Insana razão, leviana reflexão
Tantas são as eras da humanidade
Que se extinguiu toda a humanidade
Os mortos são enterrados na memória dos vivos
Selados com madeira espessa, cimento denso e memoriais de olvidade
Ninguém se quer lembrar dos defuntos, ninguém quer ser assombrado por seu fado
Partilham na colheita, resignados, ajuntam sementes para o ceifador de capa preta
Anda no meio deles, conformados, olham para o lado e fingem não ver
Olham de novo, apáticos, e quem lá estava foi com ele

E os anjos choram
Fazem companhia aos que já ali não estão
Sentinelas petrificadas pela tristeza que acarretam
Clamam coros de pranto no silêncio da solidão
Pelos que se seduzem pelo inevitável
Aqueles que se deixam adormecer
Cientes de que jamais acordarão
Acolhem a fatalidade como trivialidade

Os anjos choram...
Clamam coros de pranto...

2 comments:

  1. as ultimas duas linhas:
    ''Os anjos choram...
    Clamam coros de pranto...''
    lembram-me até uma musica.
    Parabéns
    posso notar que, assim como eu, voce é dotado de grande sensibilidade. Não sei se isso cai como um elogio para voce...
    enfim, se tiver tempo visite meu blog.
    VTM

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  2. Claro que não levo a mal, é muito bom ter sensibilidade, todos deviam ser mais.

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