Friday, December 23, 2022
Só Dentes e Furor
Friday, June 10, 2022
Ângulo Morto
Sucumbido ao sono eterno
Sunday, April 17, 2022
O Que Vive Lá no Sótão?
Porque me olhas assim?
Com artificio e morte
Alguém decidiu
Conceber-te a ilusão
De que isso que vês
Rasteja diante de ti
No chão em que pisas
Não te disseram
Os monstros na lua
Não vivem lá não
São tarântulas
Habitam em teu escalpe
Pingam pancadas frenéticas no sotão
Onde nunca lá ninguém entrou
Encontram escape
Na madeira porosa
Saem-te pelos olhos
Invadem-te os quartos
E a sala de estar
Sem portas
Nem janelas
Nem algo que segure
De onde elas saíram
Saem para o mundo
Mas mais ninguém as vê
Contorces-te aterrorizada
Consumida por horrores
Juras que é verdade
Mas é a ti
Que profetizam
De louca
De repente
Confinada em paredes
Que se encurtam
Para cada vez mais perto
Avançam para te comer
Essa aranha gigante
Prende-te os braços
Esmaga-te o peito
Roubou-te os olhos
Olha-te escancarada
Com uma ânsia de te devorar
Preencher o vácuo mortífero
Que vomitas em sala vazia
Cheia apenas de ti
Uma cama com amarras
E tudo que não coube na noite
Em onírica desrealização
Saturday, April 9, 2022
A Invenção do Mundo
Por incontável tempo caindo
Num infinito imensurável se si
Talhar terra e mares
Saturday, April 2, 2022
Todos os Não-Ditos e Interditos
E a terra solta à flor da pele replicava
Tremores vulcânicos iminentes a se soltar
Num choque elétrico que inundava
Thursday, March 31, 2022
Lune Noir
Estranha hora
Na cegueira da noite
Para colher
Negras orquídeas
Em paisagens atentas
Banhadas pela luz
Da velha lua nova pairando
Em agoiro do retorno do recalcado
Ao cimo
Velada
Ínvia
Lívida
Infinita
Indefinida
Espia os homens
Loucos como as marés
Servem-se de isco ao desejo
Ingénuos, enlaçam-se ao engano
Avezados a vaidades e veleidades
Desdenham o inebriante enleio
Que puxa seu coração
Para o fascínio de estrelas distantes
Enamorados por seu brilho
Sem suporte de vida
Thursday, March 17, 2022
Sono, Sonho, Sóbrio em Sentimento
Como se nada disso importasse
Quem o visse ali, ninguém diria
Sangra por todos os poros
Algo em nós, que nenhum quer que seja seu
Fica no meio algo por dizer, algo por perceber
Sem declarações de guerra, nem oferendas de paz
Sem olhar para trás, nem virar as costas
Ele vai
Tresmalhado
Erra pelo corpo, nó na garganta, tremores, arritmias
Noutro corpo, noutra forma
Wednesday, March 16, 2022
Grandes Sinais no Céu
Sunday, March 13, 2022
Além do Homem
Um habitat alóctone
Para um mastodonte
A carne sufocada por densos músculos
Grita um vermelho pulsante
Enquanto esse hóspede o contém
Onde Algo Possa Surgir
Saturday, March 12, 2022
Estados Confusionais da Mente
Depois desse tempo
Em que me dividi
Duas vontades
Dois opostos
Sequestros de si
Desejos multiplicados
Por cada interdito
Mais um capricho
Que não impedi
Era claro para mim
Essa rede de interlocutores
Encontrados a cada nó dado
Para não perder o norte
Até um ideal de mim
Foi deliberada tentativa
De construir arcabouço
Para aguentar impacto
De ser só metade do que quis
Cada Palavra, Cada Engano
Prostrado sobre o horizonte
Diluem-se por todo o corpo
Pensamentos parciais
Tomam forma mais sólida
Erguem-se morosos
Ganham consciência de si
Num eco ensurdecedor
Ornamentos por cada pesar
Emaranham-se a medos ampliados
Fazem-se gigantes na fusão
Entre omnipotência e queda livre.
Embalo-me em paisagens oníricas
Pela primeira vez tocadas
Revisitadas em sonhos esquecidos
Não fora sentir que já lá estive
Não fora sentir domínio
Desses pastos de torrentes de lava
Já não me enlouquecem assim.
Deixo-me seduzir
Por cada mentira
Solta por incrédulos lábios
Lambidos por chamas
Deste inferno sem ti
Friday, March 4, 2022
Einsamkeit
Silêncio de azul pálido
Despe-se no quarto
Com esguia mordida
De sabor metálico na língua
Sou transportado para memória onírica
Onde nunca estive, mas sempre senti
Labiríntica floresta, em noite de lua subreptícia
Desvalido numa brancura álgida
A ceifa de ventos glaciares saqueia
Qualquer centelha de febre que nega a falta
Num arquipélago cada vez mais insular
De ligações iónicas que perdem a referência de si
O corpo, ponte do dentro e fora
Perde toda a diplomacia para uma cortina de ferro
Negando a derradeira perda do que pode ser perda de si
Thursday, March 3, 2022
Ouroboros
Tuesday, February 22, 2022
Compulsão à Repetição
Tuesday, February 15, 2022
Quarto Escuro
Há um lugar dentro de mim
Descer as escadas, ao fundo do corredor
À direita, continuar até se perder de vista
Encontra-se uma fechadura, só eu tenho a chave
Lá dentro, está um quarto escuro
Assombrado por todos os medos, todas as dores
Das mais brandas, até às que todos sentem antes de morrer
Tenho de lá entrar
Mas tenho medo
Tenho medo do pavor que possa lá encontrar
Aquelas dores fantasmas
De todos os membros arrancados
Quero trazer alguém comigo
Para não ter tanto medo da solidão
Perder-me nos labirintos da escuridão
Sequestrado por sombras indiferenciadas
Esquecer-me
De ti
De mim
De que existe um mim sem ti
De que existe um eu dentro de ti
Esquecer-me de um eu, para mim
Mas já não estás aqui
Nem lá fora
À espera de mim
Podias entrar comigo
Não... não precisas de entrar...
Já entraste antes de mim
És tu a razão
Por estar hesitante
Não querer entrar
Não querer encontrar
A ausência espectral
De teu corpo arrancado de mim
Saturday, January 22, 2022
Azáfama da Citadela Interior
Não há momento em que a minha mente se cale
Uma cacofonia de vozes, de vontades
Acotovelando-se para serem ouvidas
Intempérie de sentimental sentença
Não há clemência, uma debandada de veleidades
Devaneios, nuvens de pensamento
Não se sustentam, pesadas, caem
É um estrondo, medonho
Aproxima-se finalmente
O céu, tira-se o véu
Embate, todo o cosmos, na porra da Terra
Nunca vistos antes, nefilins, indígenas da mente
Pouco sapientes, agora que os invocámos
É uma desgraça... tropeçam na estratosfera
Não sabem andar por aí, parecem saídos de Babel
Piores estamos nós, depois de milénios de guerras santas
É um espetáculo vergonhoso
Seria heresia, se aqui não estivessem descobertos
Expostos a descendentes de carbono
Tanta coisa e são como nós
Desajeitados, apavorados, neuróticos... se tiverem sorte
Com esse aparato todo
Já me esqueci o que tanto me atropelava
Acabou-se a insónia, voltar a dormir.... para quê?
Estou tão bem assim acordado
A noite lá fora é cúmplice do silêncio
Ouvido pelos que permanecem em vigília
De luzes apagadas, fingindo estar a dormir
Sinto o contraste do aqui e do lá fora
Incógnito, espreito como que numa cilada
A azáfama da citadela interior
Só acessível pela noite quieta, que se demora deliciosamente
Deixando escorrer, de uma nascente de memórias ligadas a afecto
Revisitando o outrora que sustenta o vigente
É o badalar, abafado pela distância
Que desperta uma reminiscência ao de leve apagada
De uma disposição horizontal
Um pouco acima do solo
Enredado por oblíquos lençóis
Espera, estava a dormir?
Friday, January 7, 2022
Jogo de Luzes
Percebo-o na sua incoerência
Uma tempestade de experiências
Que não se contêm na palavra
Sentem-se no alvoroço da hora tardia
Em que me vejo tão pequeno,
Perante essa torre alta que sai de mim